Principalmente por causa da implantação do 5G no Brasil e a necessidade de altos investimentos em infraestrutura, grandes operadoras têm anunciado que pretendem lançar infraestruturas de redes neutras pelo Brasil, o que tem gerado desconfiança por parte dos provedores de internet. Afinal, como uma infraestrutura de uma grande operadora que concorre diretamente com os provedores de internet pode oferecer um serviço que deveria ser ‘neutro’?
A Eletronet já nasceu como rede neutra e atua há 20 anos no mercado oferecendo esse serviço de forma isenta e sem competir com os provedores de internet pelo cliente final, por isso, resolvemos trazer o nosso gerente de Produto, Célio Mello, para falar sobre o assunto no “Fala Eletronet”.
Fala Eletronet: O que é rede neutra e como esse modelo de negócio se diferencia do atual modelo de negócio da Eletronet?
Célio Mello: Rede Neutra, como o nome antecipa, é um conceito de operação de redes de Telecomunicações, que pode ser via cabos ou por equipamentos, cuja utilização é de uso independente e compartilhada. Esta modalidade se difere do modelo tradicional de construção, operação e propriedade das redes de telecomunicações, no qual cada operadora tem a propriedade da rede e utiliza-a unicamente para atender seus próprios clientes. No caso da rede neutra, a infraestrutura pode ser compartilhada entre várias operadoras onde cada uma destas operadoras utiliza a rede para atender seus clientes, permitindo a existência de concorrência entre eles, na prestação dos serviços de Telecomunicações e serviços de valor agregado. O conceito pressupõe uma neutralidade da operação e propriedade da infraestrutura, não havendo preferência na utilização ou nos serviços prestados pelo detentor da propriedade da rede, entre os vários utilizadores da rede, nem concorrência do detentor da rede com os clientes utilizadores desta rede.
Além disso outro tema que tem ganhado relevância no cenário de Telecom é a discussão sobre as redes neutras com foco nas redes de fibra ópticas, mas o conceito é aplicável tanto ao compartilhamento neutro da infraestrutura quanto ao compartilhamento de capacidades de telecomunicações.
A principal motivação para o aparecimento das redes neutras é o fruto de dois imperativos: a enorme demanda de investimentos em acessos locais em fibra óptica para suportar o 5G e o IoT (Internet of Things) e a necessidade de otimização dos investimentos e alocações de recursos em redes, que em alguma medida sofre com o esgotamento da infraestrutura necessária para o lançamento de novas redes, como espaço em postes, congestionamento de uso do solo, espaços de torre, dentre outros.
Com relação ao modelo de operação da Eletronet, o posicionamento é na neutralidade do provimento de serviços de telecomunicações e conectividade e na verdade não há uma diferenciação na medida em que a Eletronet, desde o início de sua operação e fundação, teve por objetivo ser uma rede neutra e independente de seus clientes, com o objetivo de otimizar os investimentos no país em redes de longa distância e de altas capacidades, para suportar as necessidades de conectividade das operadoras e atualmente, fortemente dos provedores de acesso à internet, os conhecidos ISPs ou provedores competitivos.
A Eletronet atende a todos os clientes que necessitam de capacidade em uma determinada rota, com excelência, eficiência, atendimento diferenciado e suporte avançado às necessidades destes clientes, sejam eles provedores ou operadoras. E sem concorrer com estes provedores ou operadoras no atendimento aos clientes finais, sejam empresas, residências ou governo.
Fala Eletronet: Quais as vantagens e desvantagens das redes neutras para o provedor de internet?
Célio Mello: A principal vantagem é evitar ou otimizar o investimento em infraestrutura possibilitando um foco maior, inclusive em termo de alocação de recursos financeiros, na sua competência prioritária que é o atendimento com excelência aos clientes finais.
E a principal desvantagem é a dificuldade ou falta de flexibilidade na gestão da rede propriamente dita, seja no sentido de realocação ou modificação, uma vez que não há exclusividade na operação da rede.
Fala Eletronet: Como a infraestrutura é a mesma, qual o diferencial entre as operadoras em uma rede neutra?
Célio Mello: Como a rede neutra é parte da estratégia de infraestrutura, o grande diferencial entre as operadoras e provedores que utilizam uma mesma rede neutra é o conhecimento aprofundado que eles tenham de sua clientela uma vez que todos os seus recursos financeiros, gerenciais, humanos e técnicos estão focados em entender os clientes, desenvolver estratégias para atendê-los e suprir as suas necessidades e expectativas.
Além disso, o provedor pode estabelecer em sua estratégia, a composição de uma infraestrutura que utilize mais de uma operadora neutra, e por consequência, criando um nível de disponibilidade que seria difícil de conseguir somente com sua rede própria, além de ser muito mais dispendioso.
Não podemos perder de vista também, a capacidade de expansão e escalabilidade dos serviços que fica muito facilitada com a utilização dos operadores neutros pelo provedor.
Fala Eletronet: As redes neutras estão sendo propagadas como uma tendência aqui no Brasil, esse modelo de negócio tem tido sucesso em algum outro país? Como está o avanço desse modelo em outras regiões?
Célio Mello: Não tenho acompanhado a discussão sobre este tema no exterior mas acredito que a modalidade, no caso do Brasil, acaba tendo um apelo mais presente pelas características do país, seja pela sua extensão territorial, quantidade de municípios, rapidez na adoção de novas tecnologias além, particularmente, do ecossistema que envolve a presença dos provedores de internet espalhados pelo Brasil, e por último mas não menos importante, pelas questões econômicas que envolvem a montagem de uma infraestrutura nos vários pontos do Brasil, para suportar a implantação e o crescimento da sociedade conectada com sua demanda por mais velocidades e melhores conexões.
Fala Eletronet: É possível aplicar o modelo de negócios das redes neutras com o 5G? Pode ser um meio para que pequenas operadoras possam entrar nesse mercado?
Célio Mello: Sim. Na verdade, o grande motivador deste rearranjo que são as operadoras neutras é exatamente a demanda criada pelas redes 5G e sua necessidade superlativa de conexões entre seus vários elementos de rede, obrigatoriamente em conexão óptica.
O funcionamento e a entrega de toda a potencialidade da rede 5G, em termos de througput (capacidade de tráfego de dados) além de uma latência ou tempo de resposta e conexão diferenciada em relação a todas as soluções em uso atualmente, passa obrigatoriamente pela disponibilidade de conexões ópticas entre seus vários elementos de rede. Para isto, será necessário, termos uma infraestrutura abrangente e disponível nos vários pontos onde se pretende implantar o 5G e considerando a disponibilidade de redes implantadas pelos provedores, majoritariamente ópticas, temos uma equação adequada entre oferta de infraestrutura (redes ópticas dos provedores) e demanda de interligação dos vários equipamentos das novas redes 5G, criando oportunidades de negócios para aqueles provedores que tenham competência e maturidade para atuar nesta modalidade.
Fala Eletronet: Quais outros fatores, na sua opinião, poderiam ampliar a adoção desse modelo no mercado de Telecom?
Célio Mello: Acredito que o grande desafio do modelo de Redes Neutras para o mercado brasileiro refere-se à construção de confiança no segmento de conectividade e telecom, que tem um histórico de poucos competidores e uma cultura de propriedade de rede como elemento diferencial de competitividade nos negócios. Como tem sido regra no funcionamento de mercados, a ampliação da competição e o amadurecimento do modelo regulatório são caminhos fundamentais para esta construção de confiança e desenvolvimento saudável desta modalidade no mercado brasileiro. Para mitigar esta situação e acelerar a criação de confiança, minha sugestão é um modelo híbrido com parte da rede própria e parte sendo rede neutra, de forma que se passa a ter um benefício parcial das duas modalidades, rede própria e rede neutra.